Authors:Thiago Bittencourt Pages: 13 - 35 Abstract: Este trabalho é sobre o romance Machado (2016), de Silviano Santiago, cujo propósito principal é compreender as relações entre Literatura e História presentes na ficcionalização do escritor Machado de Assis como personagem. Nesse sentido, buscamos alguns apontamentos de György Lukács em O romance histórico (2011), pois a discursividade na ficção é apresentada por meio da mescla indissociável entre o discurso ficcional e o histórico. Ambos são constituídos pela textualização em prosa, porém o primeiro diz respeito ao imaginário e o segundo ao factual. Logo, verifica-se a problematização da narrativa por ser permeada pela organização subjetiva e metadiscursiva do narrador-personagem, o qual faz apontamentos acerca de sua forma de narrar e da vida e da obra do escritor ficcionalizado, de modo a evidenciar seu conhecimento especializado a respeito da história do Rio de Janeiro, da história da literatura e de crítica literária. É importante compreender as definições de metaficção historiográfica, propostas por Linda Hutcheon, em A poética do pós-modernismo: história, teoria e ficção (1991), justamente por se tratar de uma ficção histórica contemporânea que apresenta uma narrativa intensamente autoconsciente. Esses traços são evidenciados a partir das análises de recortes do romance e das referências críticas e teóricas de que dispomos. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Leonardo Petersen Lamha Pages: 36 - 56 Abstract: Partindo do conceito de arquivo desenvolvido por Derrida, este artigo explora as questões midiáticas e tecnológicas, mencionadas por Derrida na sua conceptualização, em diálogo com a teoria da mídia e da literatura de Friedrich Kittler. Argumenta-se que a noção kittleriana de mídia não só continua as questões postas por Derrida, como também vai além de sua “gramatologia”, isto é, de questões filosóficas, semióticas e linguísticas e adentra no reino tecnológico, pouco explorado pelos estudos literários. Como estudo de caso, discute-se a leitura kittleriana do romance O arco-íris da gravidade, de Thomas Pynchon, buscando como o “teatro bélico” da Segunda Guerra Mundial, representada por Pynchon, esconde uma verdadeira máquina arquivística da pós-modernidade em seus aspectos midiáticos e tecnológicos. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Taynara Leszczynski Pages: 57 - 76 Abstract: O livro Um acontecimento na vida do pintor-viajante (2006), do escritor argentino César Aira, traz um embate bastante pertinente sobre as fronteiras entre o real e o ficcional, visto que o protagonista da história, o alemão Johann Moritz Rugendas, de fato existiu. Esse gesto retoma a técnica ready-made, à moda de Duchamp, conforme afirma Antelo (2006), na qual o objeto é retirado de seu local de origem e ressignificado por meio da arte. Dessa maneira, em nossa leitura, foi possível perceber que o romance não precisa e nem conseguiria ser igual à realidade. Vê-se que ele tem métodos próprios de se constituir e não compete com ela. Assim, para melhor entender essa questão, baseamos-nos, sobretudo, nas correspondências entre James e Stevenson (2017), bem como, nas ideias teóricas de Gallagher (2009). Além disso, outras dualidades fazem-se presentes na narrativa, como por exemplo, o diálogo entre imagem e texto, entre a loucura e a sanidade e a utilidade ou não da arte. Observa-se ainda uma metamorfose do protagonista Rugendas, a partir de um acidente que ele sofre durante a sua viagem para a Argentina e Chile. Ele fica com sequelas graves que desencadeiam uma mudança radical: a transformação de um artista famoso e amado, requisitado por seus fãs, a uma figura monstruosa, física e intelectualmente, que causa repúdio e afastamento. Tal experiência é bastante semelhante à vivida por Gregor Samsa, de Franz Kafka. Logo, para refletir acerca dessa monstruosidade do personagem, pautamos-nos em Cohen (2000) e sua teoria sobre os monstros. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Pedro Barbosa Rudge Furtado Pages: 77 - 98 Abstract: Procuramos evidenciar, neste artigo, a construção psicológica ambivalente do protagonista José Célio no romance De mim já nem se lembra, de Luiz Ruffato. A percepção de José Célio, relativa à sua migração para a Grande São Paulo e às suas relações ali, inscreve-se no sentido de uma dualidade pulsional, negando, assim, uma visão maniqueísta do mundo. Nas cartas para a mãe, que são o núcleo da narrativa, manifestam-se as ambiguidades afetivas do protagonista e a associação conflitiva com o que o rodeia: por exemplo, ao mesmo tempo que sente saudade da família, edifica outros vínculos; ao mesmo tempo que o trabalho lhe retira as horas de gozo, o próprio labor dá margem para a sua educação política no meio do regime ditatorial. O desamparo, a perda do lugar estável, suscita, também, por meio da parcial porosidade de José Célio, a sua autonomia individual. Baseados nas ideias de Sigmund Freud (1986) acerca do desamparo, de Enrico Testa (2019) sobre a permeabilidade da personagem, de Franco Moretti (2020) a respeito do romance de formação e textos da fortuna crítica desse romance, mostramos como coexistem, no registro da psicologia do protagonista, através das cartas à mãe, a nostalgia e a potente vontade de edificar o futuro, rompida por uma morte prematura e também ambígua. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Junia Barreto, Pedro Henrique Alcântara Pages: 99 - 137 Abstract: Ao longo dos tempos, assistimos grande parte da crítica e da mídia tratar a obra de Jules Verne enquanto ficção científica, atribuindo ao autor até mesmo a paternidade do gênero. Nessa perspectiva, seu trabalho seria fruto de uma imaginação altamente inventiva, quase profética, antevendo a criação de vários inventos tecnológicos. Porém, considerando o curso da vida e do trabalho literário de Jules Verne, as intensas pesquisas do romancista junto a especialistas, com os mais diferentes documentos, revistas científicas e jornais fomentaram a criação de um novo gênero poético-fantástico, baseado nas mais diversas navegações e viagens ao redor do planeta, um theatrum mundi, exprimindo vários roteiros e apresentando uma espécie de incorporação dos conhecimentos. Publicadas na época das Exposições Universais, as ditas Viagens Extraordinárias impulsionam os leitores ao centro da descomunal documentação verniana, para sonhar com os limites da experiência humana: a literatura verniana trata do espetáculo do mundo ligado com as possibilidades fascinantes do progresso. PubDate: 2021-11-28 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Airton Pott, Ivânia Campigotto Aquino Pages: 138 - 164 Abstract: A literatura possui múltiplas razões de existência e é o território onde muitos autores e leitores se refugiam e encontram lugar de aconchego, acalento, ou até mesmo de desabafos e lamentações. Além do mais, existiram anos conflituosos na trajetória histórica da sociedade brasileira, como os da ditadura militar, em que muitos cidadãos tiveram suas vidas findadas e suas memórias aniquiladas. No entanto, muitos familiares dessas vítimas encontraram força e resistência na literatura para registrarem suas vivências ou de seus entes e conhecidos. Bernardo Kucinski, jornalista e escritor, é um desses inúmeros casos que, por meio de obras literárias contemporâneas como K.: relato de uma busca, manifestou suas experiências traumáticas. Diante disso, nosso objetivo é analisar, à luz do autor e da obra mencionados, como escritores conseguiram ressignificar os acontecimentos históricos por meio da literatura contemporânea a partir das memórias e dos arquivos existentes. Ricoeur (2007), Gagnebin (1999, 2006), Seligmann-Silva (2000) e Figueiredo (2017) nos fornecem respaldo teórico para realizarmos nossos estudos, que nos permitem concluir que a literatura representa, ressignifica e salvaguarda muitas informações, acontecimentos e documentos, inclusive memórias e vidas. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Renan Kenji Sales Hayashi Pages: 165 - 189 Abstract: O presente artigo trata de um recorte de análise da obra Atos Humanos (2021), da autora sul-coreana Han Kang. A obra descreve acontecimentos relacionados ao massacre de jovens estudantes em maio de 1980, especialmente na cidade de Gwangju. A partir de uma perspectiva de memória e esquecimento, trabalhamos com a noção de testemunho póstumo de um dos personagens, dentro do romance polifônico. Esse testemunho adquire um relevo especialmente particular se lido a partir da ótica dos arquivos históricos e registros documentais. O tempo vivo da memória alcance um patamar de ressignificação de sentidos precisamente porque a arte possibilita a leitura da história e a história chancela a leitura da arte. E a literatura se coloca como o ponto de encontro dessa profusão de sentidos, sendo o testemunho da personagem a materialidade para lidar com memória, esquecimento, (res)sentimento e violência. PubDate: 2021-11-28 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Emânia Aparecida Rodrigues Gonçalves, Moema Rodrigues Brandão Mendes Pages: 190 - 214 Abstract: O estudo de arquivos literários oportuniza uma abordagem crítico-genética sobre o texto em versão original e sobre o processo de criação autoral. O objetivo deste artigo é apresentar parte da pesquisa de doutorado, em desenvolvimento, cujo objeto de investigação é composto por contos inéditos, manuscritos, guardados nos arquivos da escritora mineira Maria de Lourdes Abreu de Oliveira (1934-), que contemplam o espaço urbano de Juiz de Fora nas décadas de 1950, 1960, 1980, e 2000. O embasamento teórico deste estudo fundamenta-se, principalmente, nas considerações de Aloisio Arnaldo Nunes de Castro, Almuth Grésillon, Cecília Almeida Salles, Jacques Derrida, Louis Hay, Maria Zilda Ferreira Cury, Maurice Halbawachs, Philippe Artières, Philippe Willemart, além de outros teóricos que dialogam com o tema em questão. Como resultados parciais da pesquisa realizada até o momento, entende-se a necessidade de valorizar a preservação de um arquivo, assim como reconhecer a importância da produção intelectual regional para preservação da memória individual e coletiva. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Ana Roiffe Pages: 215 - 238 Abstract: O artigo revisita uma pesquisa nos arquivos do artista Jack Smith, a partir de fragmentos da poética arquivística proposta por Arlette Farge em O sabor do arquivo (1981). A materialidade desses arquivos provoca descobertas inusitadas, como os resquícios de uma desconhecida viagem ao Rio de Janeiro, e grandes faltas, o que colabora para desenhar traços desse personagem pouco conhecido no Brasil, avesso ao próprio arquivamento. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Letícia Campos de Resende Pages: 239 - 264 Abstract: Este artigo tem o objetivo de fazer uma análise do romance autobiográfico Os anos, de Annie Ernaux, tendo como referência teórica estudos sobre o arquivo e a literatura. Num primeiro momento, faço um apanhado da obra da autora, a fim de mostrar que a prática arquivística se manifesta na maioria de seus trabalhos. Num segundo momento, debruço-me sobre o objeto deste estudo, com o fim de mostrar quais são os procedimentos de arquivamento empregados pela autora nessa obra específica, bem como os modos pelos quais a narrativa nacional francesa, ao ser arquivada, é também reconfigurada. Chego à conclusão de que o romance em questão é prova de um “impulso arquivístico” (FOSTER, 2004) comum na literatura contemporânea. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Taisy Buzanello Janku, Natália Corrêa Porto Fadel Barcellos Pages: 265 - 286 Abstract: Em Nas peles da cebola (2007), Günter Grass apresenta as memórias de sua juventude e início de sua carreira como escritor, vivências marcadas pela ascensão do regime nazista e pelas consequências da Segunda Guerra Mundial. Nesta obra, aparece a confissão tardia do seu alistamento voluntário ao grupo militar Waffen-SS, informação ocultada pelo autor durante décadas, o que provocou um debate ético em torno da figura de Grass. Podemos observar que o autor vincula o relato de sua experiência pessoal a uma forma de escrita contemporânea ambígua, a autoficção, para representar a lida com memória. Propõe-se, neste artigo, analisar de que forma é construída a representação da memória no texto autoficcional, considerando a articulação de questões históricas, subjetivas e literárias a exemplo da obra Nas Peles da Cebola, de Günter Grass. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Bruna Franco Neto, Ângela Maria Guida Pages: 287 - 306 Abstract: Antígona González, de Sara Uribe, é uma obra poético-dramática que se propõe, ao desapropriar (RIVERA GARZA, 2013) outros textos arquivos, sejam esses filosóficos, históricos, informativos ou artísticos, (re)contar testemunhos de uma narrativa de luta e de luto. Ao revisitar o tempo passado (SARLO, 2005) das memórias latino-americanas, Uribe produz uma obra que, desestruturando a normatividade do gênero textual, propõe, por meio da arte, recriar e manter pulsante a memória de corpos latinos. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Adriana Sul Santana, Marcelo Ferraz de Paula Pages: 307 - 338 Abstract: Trata-se de uma abordagem teórica dos gêneros literários e dos experimentos literários a partir do início do século XX, com atenção especial para as teorias do testemunho e da resistência. A partir dessa premissa, selecionou-se o romance Without a name [1994] da zimbabuense Yvonne Vera (2002), e um Acórdão (2013), coletado eletronicamente no sítio do Tribunal de Justiça do Estado Goiás, com pretensão de identificar nessas obras as marcas misóginas e de resistência no tratamento do testemunho da mulher vítima de estupro. Nessa perspectiva o artigo é orientado pelos estudos de Adorno (2003), Bosi (2010), Sartre (1988) e Seligmann-Silva (2003; 2014), pelas raízes misóginas presentes nas obras patrísticas e no Decretum de Gratiani (1959), bem como pelo conceito de polifonia de Bakhtin (1981). PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Alan Osmo Pages: 339 - 363 Abstract: Este artigo se propõe a discutir ficção científica, arquivo e testemunho a partir do filme Branco sai, preto fica (2014), de Adirley Queirós. Enfatizo que se trata de uma ficção científica construída a partir de um episódio real de violência policial em um baile black em 1986 na Ceilândia, em que dois dos atores foram vítimas e testemunham sobre o que viveram. No filme, um agente vem do futuro com a missão de produzir provas para que o crime seja reconhecido pelo Estado e os responsáveis punidos. Sem arquivos, é como se o acontecimento nunca tivesse existido, o que geraria um esquecimento oficial. O artigo está dividido em três partes. Na primeira, é discutido o recurso à ficção científica como forma de elaboração da memória traumática de um episódio de violência estatal. Na segunda, é problematizada uma dimensão paradoxal na transformação de testemunhos em arquivos: se por um lado ela auxilia na inscrição de episódios de violência que correriam o risco de serem apagados, por outro não é capaz acolher de forma apropriada a narrativa de dor de alguém que testemunha. Por fim, na terceira parte, o artigo discute a relação entre testemunho e arte e sua importância para a memória de violência no Brasil, em que há uma recorrente ameaça de apagamento do passado. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Miguel de Ávila Duarte Pages: 364 - 389 Abstract: O presente artigo tem como foco o que denominamos de a obra invisível do artista plástico carioca Hélio Oiticica, a escrita de feição híbrida, ao mesmo tempo poética e documental, acessível através do arquivo do artista. Após um breve recaptulação da trajetória da relação de Oiticica com a escrita, que abrange diários de criação, poemas e a incoporação da palavra nas suas obras plásticas, investigamos as características específicas da sua produção do período novaiorquino, pensada enquanto uma forma de literatura expandida e caracterizada pelo projeto de uma escrita do corpo, vinculada à fala e ao registro de seu “dia-a-dia experimentalizado”. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Edson José Rodrigues Júnior, Brenda Carlos de Andrade Pages: 390 - 417 Abstract: O objetivo do presente estudo é analisar, a partir da perspectiva lukacsiana, como o romance A emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela, mobiliza aspectos formais e temáticos para alcançar a totalidade do objeto ao retratar, com riqueza em detalhes e minúcias, a cidade do Recife durante a década de 1860: seus habitantes, seus costumes, modos de vida, vícios, virtudes e como eles estão intrinsecamente condicionados pela realidade histórica em que estão inseridos. Intentamos também relacionar a construção do romance de Vilela a um conceito da estética hegeliana tomado de empréstimo por Lukács (2011), a totalidade do movimento. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Jorge Antonio Berndt, Gilmei Francisco Fleck, Leila Shaí Del Pozo González, Ana Maria Klock Pages: 418 - 443 Abstract: O romance histórico (2011), de Lukács, obra publicada, originalmente, em russo, entre 1936 e 1937, tem como ponto fulcral a análise das obras do romance histórico scottianas. A partir daí são vários os estudos que versam sobre o romance histórico contemporâneo. No entanto, somente em 2017, de forma didática, Fleck oferece a organização das diferentes designações dadas anteriormente a essa produção narrativa por vários estudiosos, especificando quais seriam as características do romance histórico tradicional, além de introduzir o estudo da modalidade romance histórico contemporâneo de mediação. O artigo visa apontar, de forma breve, as estratégias utilizadas para construir ou reconstruir a história em romances históricos clássicos, tradicionais e de mediação. Pretende-se abordar Ivanhoé (SCOTT, 2003), Xicoténcatl (ANÔNIMO, 2020), Mercedes of Castile: or, The voyage to Cathay (COOPER, 1840a; 1840b) e Crónica del Descubrimiento (PATERNAIN, 1980), com o intuito de contrastá-los sob a perspectiva da Literatura Comparada e dos estudos sobre o romance histórico clássico, tradicional e contemporâneo de mediação, de acordo com Fleck (2017), de modo a verificar a presença das diferentes características que marcam a trajetória da evolução do romance histórico, explicitadas com exemplos retirados das obras elencadas. Como resultado, são apresentadas as diferenças entre as características das modalidades do romance histórico clássico, tradicional, do romance histórico contemporâneo de mediação, além das contidas no romance de ruptura Xicoténcatl (ANÔNIMO, 2020), com respeito ao clássico. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Natalia Lorena Ferreri Pages: 444 - 461 Abstract: Cette contribution propose une analyse des formes de l’hétérogénéité énonciative –montrée et constitutive– (Authier-Revuz, 1984) dans deux romans francophones contemporains : Après nous les nuages (Bruxelles, 2017) de Marc Meganck, et Belle merveille (Paris, 2017) de l’auteur haïtien James Noël, dans le but de mettre en évidence comment à partir des énoncés polyphoniques l’on construit un discours collectif sur la violence. Ces textes racontent des événements qui ont eu lieu récemment et où la violence provoque la mort, la peur, l’horreur et le chagrin. Dans les deux cas, le temps du récit se situe après les événements, c’est-à-dire une fois que les paysages urbains et naturels ont été modifiés par la violence. Face à ces images effrayantes, la voix narrative se démultiplie en raison d’une violence qui n’est pas individuelle, personnelle ou intime mais collective et plurielle, et qui touche une communauté tout entière. D’une part, Noël raconte une catastrophe, le tremblement de terre en Haïti en 2010, à travers une multitude de voix —des survivants et des témoins—, ainsi qu’à travers le narrateur appelé « Bernard » ; d’autre part, Meganck décrit les attentats déclenchés à Paris et à Bruxelles en 2015 et 2016, respectivement, en employant une voix anonyme qui retransmet ce qu’elle voit et entend dans les villes. Nous postulons ici que la polyphonie devient l’instrument esthétique pertinent pour aborder un sujet actuel, urgent et collectif. Dans les deux romans, la polyphonie ne sert pas de marqueur de distance par rapport à l’énoncé, mais sert à souligner le thème, car chaque voix ajoute son point de vue pour mettre l’emphase sur la manière de raconter la violence. Ainsi l’objectif de cette étude est-il d’analyser les traces de la polyphonie dans les deux romans aux niveaux syntaxique, lexical et typographique —des marques venant interférer le fil du discours sous la forme d’une autre langue, d’un autre interlocuteur ou d’un autre registre— en vue de distinguer les identités narratives (Ricoeur, 1990) qui assument le récit dans les deux romans. Pour ce faire, nous partons du concept de dialogisme développé par Bakhtine (1989) au moyen duquel l’auteur exprime que « la plurivocalité et le plurilinguisme pénètrent dans le roman de telle sorte qu’ils sont organisés dans un système artistique » (116). Nous identifierons également les différents je du discours et les façons de les nommer ; de même que l’usage de l’italique, des guillemets et du discours indirect libre. Chemin faisant, nous mettrons en évidence comment ces voix construisent un sens collectif sur la violence, et même à quel point il faut dire la violence à plusieurs voix pour pouvoir la supporter. C’est dans l’intention de mettre à jour les concepts de polyphonie, d’hétérogénéité énonciative et de narrateur/énonciateur que nous proposons une approche analytique dans la littérature francophone principalement contemporaine. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Leila Aparecida Cardoso de Freitas Lima, Susanna Busato Busato Pages: 462 - 482 Abstract: Este trabalho apresenta como tema o relacionamento do narrador e suas memórias no romance Mil rosas roubadas, de Silviano Santiago. O objetivo concentra-se em averiguar o papel da morte de Zeca, no processo de autodescoberta do narrador-escritor. Para tanto, parte-se da hipótese de que a morte do amigo obriga a personagem-narradora a mergulhar em um processo de escrita que em muito poderá desvendar sentimentos não compreendidos no passado, além de provocar uma redefinição da condição de seu eu no mundo. Neste percurso, o ponto de partida para análise está alicerçado nos estudos narratológicos de Gérard Genette (1979), no entanto, no decorrer deste processo autores como Freud (1930) e (2011), Bakhtin (1997), Gagnebin (2006), entre outros, também serão convidados à discussão. Esta reflexão pretende resultar na compreensão de uma suposta presença paradoxal de morte e vida no romance de Santiago. Neste contexto, é possível que a morte do eu narrado precise ser decretada juntamente a de Zeca, para que o eu da enunciação com sua nova face de ficcionista possa finalmente nascer. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Mariane Tavares Pages: 483 - 503 Abstract: O objetivo deste artigo é discutir os conceitos de memória, esquecimento e direito a partir do episódio “White bear”, de Black Mirror. Essa série reforça as possibilidades de um futuro distópico por meio de novas tecnologias e a reflexão parte da ideia de que o uso dessas tecnologias tem uma intenção benéfica, mas podem sobrepujar à dignidade da vida humana. Com base na filosofia de Nietzsche, a questão posta é que memória e esquecimento afetam a vida em sociedade e o desejo de verdade, justiça e poder – retratado no episódio da série – aponta para problemas que não são apenas fictícios. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)
Authors:Vinícius Enguel de Oliveira Pages: 504 - 512 Abstract: As fábulas de La Fontaine estão presentes desde o século XVII até os dias atuais no imaginário social. São histórias que marcaram nossa infância e com as quais nos reencontramos em diferentes momentos da vida, assumindo significados distintos de acordo com a época em que nos encontramos. Essa tradução de Le Corbeau et le Renard visa aproximar os leitores de língua portuguesa das intenções que possuía o autor quando compôs seu texto, mantendo-se métrica, esquema de rimas e moral da história. Com isso, por ser um texto de linguagem complexa, é destinado para a fase de pré-vestibular, assim como para universitários e pesquisadores. PubDate: 2021-11-30 Issue No:Vol. 2, No. 29 (2021)