Authors:Silvana de Souza Ramos, Clêmie Ferreira Blaud Pages: 8 - 9 Abstract: Apresentação do dossiê II Encontro do GT Filosofia e Gênero PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p8-9 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Susana de Castro Pages: 10 - 20 Abstract: O objetivo deste trabalho é de mostrar que Carolina Maria de Jesus foi muito mais do que uma autora de um só livro, Quarto de Despejo. O fato, entretanto, de ela ter sido assim considerada, mostra que, na verdade, a favor do seu silenciamento trabalharam o autoritarismo e o machismo vigentes. Os brasileiros rejeitaram a ideia de que uma voz feminina negra oriunda da favela pudesse ocupar o espaço ‘puro’ da literatura e do pensamento, reservado aos membros da elite econômica brasileira. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p10-20 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Halina Macedo Leal Pages: 21 - 32 Abstract: A análise de processos de opressão de gênero começa a emergir nas reflexões filosóficas, seja pelo foco no funcionamento do sistema patriarcal ou pelo foco na intersecção do patriarcado com relações de dominação a partir de origens etnicorraciais. Em geral, tais reflexões buscam examinar os fundamentos dos sistemas opressivos e a reação das mulheres a tais sistemas. São localizadas diferentes formas e demandas dos movimentos feministas e os modos como estes procuram, por meio da discussão sobre gênero, fortalecer o papel social e político das mulheres. Neste contexto, o presente artigo visa examinar o lugar do feminismo negro no debate e suas bases de sustentação, tendo em vista as peculiaridades das necessidades das mulheres negras. Estas peculiaridades estão relacionadas à inseparabilidade estrutural entre patriarcado, sexismo, racismo e suas articulações que implicam em múltiplas situações de opressão sofridas por este grupo de mulheres. Em outras palavras, busca-se analisar a centralidade do conceito de interseccionalidade para a compreensão da atuação do feminismo negro nas reflexões filosóficas acerca da condição da mulher negra na sociedade. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p21-32 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Betânia de Assis Reis Matta, Rita de Cássia Fraga Machado Pages: 33 - 44 Abstract: Este artigo discute o papel feminino na produção de conhecimentos científicos a partir da perspectiva decolonial. Possui como linha de análise a educação libertadora e reflete sobre os discursos sociais contemporâneos pautados em um modelo de pensamento colonialista. Para esse pensamento colonialista, a questão de gênero ainda é muito relevante. A importância deste tema se justifica pela necessidade de compreender os aspectos procedentes da mentalidade colonizadora, que silenciou, censurou e desvalorizou o conhecimento produzido pelas mulheres ao longo da história. Por isso, espaços democráticos de debates devem ser criados para que os grupos que não foram visibilizados durante muito tempo por essa sociedade patriarcal, machista e desigual possam ser ouvidos e acolhidos. Para tanto, a metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, tendo como corpus de análise artigos científicos e livros. Os materiais pesquisados fazem referência aos estudos decoloniais e ao legado do Movimento Feminista Negro. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p33-44 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Magda Guadalupe dos Santos Pages: 45 - 56 Abstract: As teorias feministas de Catharine MacKinnon sobre a questão do corpo, na década de 1990, ampliam as discussões que regulam o processo de materialização de significados e submissão das mulheres ao poder. MacKinnon, especialmente em Are Women Human', propõe que se amplie a proteção das mulheres contra a violência, visando alcançar, nos julgamentos de estupros em tempos de guerra, a conotação de genocídio, pelo seu impacto ético-político. Também com relação à pornografia ela é profundamente crítica, entendendo isso como verticalidade de uma violência explícita que deveria ser combatida. Ao se questionar o alcance de sua teoria no momento histórico de sua produção, verifica-se que suas preocupações chegam até os dias atuais em novas pautas axiológicas, mas ainda como um desafio e uma necessidade teórica nos tópicos feministas da atualidade. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p45-56 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Thiago Dias Pages: 57 - 68 Abstract: Um dos objetivos deste artigo é apresentar a relação entre política e palavra proposta por Adriana Cavarero em "Vozes plurais". Sob influência declarada de Hannah Arendt, Cavarero coloca a singularidade no centro de seu pensamento, e o segundo objetivo deste artigo é mostrar que a singularidade é uma ideia chave para a crítica do patriarcado. Uma análise fina de Platão e Aristóteles mostra que eles dividiram o logos em um aspecto sonoro e um aspecto lógico e, ato contínuo, soterraram a voz sob o semântico estabelecendo uma hierarquia que marcaria toda a tradição. A diferença de gênero se uniria a esta hierarquia, pois a tradição atribuiria a voz à mulher e o semântico ao homem. Carnal, sensual e particular, a voz e a mulher se mantiveram à sombra do espiritual, racional e universal garantidos pelo homem e seu logos sem voz. Em um passo adicional, Cavarero apresenta uma fenomenologia vocálica da unicidade a fim de mostrar que a voz porta a singularidade humana. Diante disto, faz-se necessário reconduzir a palavra à sua raiz vocálica, especificamente acústica e tradicionalmente feminina, a fim de elaborar uma política pós-patriarcal. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p57-68 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Manuela Triani Gomes de Knegt Brière Pages: 69 - 79 Abstract: O presente artigo trata de três obras de arte produzidas nas décadas de 1960 e 1970 por Lygia Pape, Wanda Pimentel e Maria Eugenia Chellet. Todas as três colocam em cena o corpo de mulheres ambientado em distintas situações onde discursos normativos da sexualidade e processos de dominação são evidenciados. As principais fontes de pesquisa para este artigo foram depoimentos das artistas, entrevistas, textos de exposições, além de uma literatura dirigida à sexualidade feminina e aos mecanismos de estabelecimento de relações de dominação. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p69-79 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Janice Aparecida de Souza, Alessandra Sampaio Chacham Pages: 80 - 91 Abstract: Este artigo aborda a invisibilidade da homossexualidade feminina a partir da análise da experiência de uma “Confraria” de Lésbicas mineiras nascidas na década de 1950. O objetivo é refletir sobre os usos que faziam dos espaços e sobre as interações possíveis à época. Se é a partir dos processos de interação social que o sentido e o significado nas relações emergem, a forma pela qual a cidade acolhe ou ignora e invisibiliza determinados sujeitos impacta suas vidas. O modo pelo qual elas se apropriaram dos espaços disponíveis na cidade de Belo Horizonte e a criação de outros espaços mais reservados foram fundamentais para a criação de longevos vínculos de amizade e convivência. Tais vínculos parecem ter colaborado para uma rede de apoio mais estruturada na velhice formada por relações de afeto, amizade e solidariedade. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p80-91 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Carolina Bernardini Antoniazzi Pages: 92 - 103 Abstract: O presente artigo persegue a seguinte questão: seria a maternidade uma forma de opressão' Para tanto, partimos do conceito de opressão formulado por bell hooks. A fim de analisar a experiência da maternidade enquanto vivida por um sujeito único, mas, ao mesmo tempo, constrangida por estruturas sociais generificadas, ancoraremos a maior parte de nossa análise em Iris Young. O pensamento da autora é habilidoso ao entrelaçar uma corrente fenomenológica à crítica social, dando conta de problemas que surgem nas pautas feministas acerca de subjetividades em relação a marcadores sociais. É pertinente, ainda, na medida em que Young se ocupa amplamente de temas e problemas ligados à maternidade, dando maior ênfase a este debate do que normalmente observamos. Silvia Federici também é central neste ponto, fornecendo ferramentas para entendermos a reprodução como um trabalho. Procuramos demonstrar como as tarefas do cuidado estão amplamente relacionadas à maternidade e, provavelmente, foram naturalizadas como pertencentes à esfera feminina em decorrência do próprio trabalho reprodutivo. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p92-103 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Mateus Gustavo Coelho, Cristina Scheibe Wolff Pages: 104 - 117 Abstract: Este trabalho pretende traçar uma relação entre a recente abertura acadêmica da Filosofia para os estudos feministas no Brasil e de como estes, em grande parte, têm sido responsáveis por colocar novos desafios ao ato de filosofar a partir das possibilidades trazidas pela discussão das interações entre a categoria gênero, com os estudos de afetos, emoções e cuidado. Ao trazer os afetos e emoções, ligados ao gênero, para a discussão nas Ciências Humanas e na Filosofia, os estudos feministas buscam estabelecer relações com partes da vida humana que durante séculos foram deixadas de lado no pensamento filosófico. Temas como a relevância das emoções, o cuidado com o outro e os afetos cada vez mais se fazem presentes dentro dos espaços de debate. Os estudos feministas não apenas ampliaram as temáticas possíveis dentro da academia, como também propiciaram diferentes possibilidades de escrita ao dar ênfase às subjetividades. Partindo de uma análise bibliográfica de autoras que pesquisam o papel dos afetos, emoções e cuidados, defendemos aqui que os estudos feministas ao trazerem estes temas como categorias de análise trazem consigo o próprio ato de espantar-se e de afetar-se com o mundo. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p104-117 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Mariana Di Stella Piazzolla Pages: 118 - 129 Abstract: A ética levinasiana assume a mulher ou o feminino como alteridade discreta. A decisão por uma leitura elegendo um dos termos pode abrir para diferentes interpretações sobre a atribuição dessa alteridade, e isso suscitou um enorme interesse por teóricas feministas pela filosofia de Levinas, sendo Simone de Beauvoir uma das precursoras da crítica ao rebaixamento da mulher como Outro, continuada, de certa forma, por Luce Irigaray. Para compreender como essas críticas implicam na constituição de uma subjetividade oferecida a Outrem, decidimos iniciar pela análise do lugar que a mulher ocupa na ética levinasiana. Discutiremos desde a perspectiva da separação entre o ser e o ente, com objetivo de constituir o que sustenta uma aceitação de uma alteridade radical, tomando primeiramente o termo mulher como alteridade silenciosa, cuja posição intermediária entre ser e não-ser torna-se a condição para o recolhimento, e por conseguinte, indispensável para a relação ética. Em seguida, apresentaremos algumas questões que orbitam em torno da noção de feminino empregada por Levinas. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p118-129 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Janyne Sattler Pages: 130 - 143 Abstract: Este artigo busca salientar os elementos utópicos comuns entre as obras de Christine de Pizan, A cidade das damas, e de Charlotte Perkins Gilman, Terra das mulheres, em vista de uma utopia política feminista, cujo valor central reside tanto num projeto de autonomia filosófica e literária quanto naquilo que tenho defendido para as utopistas e as não utopistas que escrevem ao longo da história da filosofia, como constituindo uma efetiva política do texto, da escrita e da linguagem com as obras realizando em ato uma defesa das capacidades cognitivas, imaginativas e políticas das mulheres. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p130-143 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Anastasia Guidi Itokazu Pages: 144 - 160 Abstract: Neste artigo, proponho que a crise política que vivenciamos em todo o mundo está relacionada a uma crise epistêmica, e que uma revolução científica se impõe diante de nós: somente uma ciência feita pelos 99% e para os 99% pode fazer frente à onda de obscurantismo que ameaça as bases cognitivas da própria democracia. Na parte final do artigo, descrevo de maneira bastante geral algumas características que devem ser satisfeitas por essa ciência sucessora. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p144-160 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Maria Cristina Longo Cardoso Dias Pages: 161 - 176 Abstract: Busca-se, neste artigo, explicitar o conceito de liberdade para Silvia Federici. Será mostrado que esta noção, para a autora, significa a construção de lutas contra o modo de produção capitalista entendido como um sistema produtor e reprodutor de diversas formas de opressão como as de classe, raça e gênero, com vistas ao lucro. Neste sentido, torna-se necessário explicitar o processo de acumulação primitiva de capital como constituinte de antigas e atuais explorações para então mostrar as diversas lutas anticapitalistas que se formam. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p161-176 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Taynam Santos Luz Bueno Pages: 177 - 189 Abstract: Neste artigo será abordada a ambígua e, por vezes, contraditória representação das mulheres no pensamento do filósofo estoico Sêneca. Com isso, pretende-se demonstrar que a construção da postura misógina no âmbito da filosofia se dá, primeiramente, desde a antiguidade e, muitas vezes, de modo conflituoso com os próprios pressupostos e princípios professados pelas diversas correntes de pensamento. No caso específico deste texto, pretendemos demonstrar como Sêneca, declarado filósofo estoico, apresenta o gênero feminino de modo pejorativo e, como veremos, com discutível respaldo no conjunto dos princípios da filosofia do pórtico. Ao acompanhar as reflexões do pensador romano sobre o gênero feminino percebemos que há uma dupla apresentação das mulheres. Em algumas passagens, o filósofo as expõe como virtuosas e, portanto, dignas da atividade filosófica e da realização de ações corretas. Por outro lado, e na maior parte das vezes, o autor latino confere ao gênero feminino características que indicam limitações e podem prejudicar seu comportamento ético, mitigando assim o exercício pleno de sua racionalidade. Por muitas vezes, vemos Sêneca associar aos adjetivos femininos falhas morais e deficiências de caráter, ao passo que, aos adjetivos masculinos, o filósofo creditará ações virtuosas e ligadas à racionalidade. No entanto, como compreender tal ambiguidade em relação ao gênero feminino se, por princípio, o pensamento estoico afirma que a potencialidade de realização de ações virtuosas é garantida à humanidade, graças a sua participação na razão universal' PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p177-189 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Ilze Zirbel Pages: 190 - 202 Abstract: O presente artigo traz algumas reflexões da filósofa e feminista decolonial Elsa Dorlin sobre o que chamou de feminismo-lógico-filosófico do século XVII, presente nas posições de Marie de Gournay, Anna Maria Van Schurman, François Poullain de la Barre e Gabrielle Suchon. Neste artigo, esse tipo de filosofia é classificado como lógico-igualitarista e recebe uma quinta representante: Mary Astell. Estas filósofas e la Barre defenderam uma igualdade entre os ‘sexos' por meio de argumentos lógicos que visavam demonstrar a igualdade como algo verdadeiro e irrefutável. É nossa intenção apresentar ao público brasileiro algumas das estratégias utilizadas por essas filósofas, e apontadas por Dorlin, no debate sobre a desigualdade ou igualdade entre os sexos. Por fim, focaremos nos motivos pelos quais as estratégias utilizadas não chegaram a atingir seu objetivo: um contexto de juízos e juízes corrompidos. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p190-202 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Clêmie Ferreira Blaud Pages: 203 - 213 Abstract: A prática de evocar o nome de mulheres, personagens míticas ou reais, nos discursos filosóficos que tratam da emancipação feminina serve a dois propósitos principais: i. resgatar a memória das mulheres, com o propósito de reconstruir a história da filosofia, refutando os argumentos desfavoráveis às mulheres; ii. exemplificar os conceitos discutidos no texto com a ação ou pensamento de outras mulheres, muitas delas esquecidas na história da filosofia. O estudo das semelhanças e diferenças no modo como os nomes de mulheres são mobilizados produz novas reflexões sobre a memória e a história da filosofia. Este artigo investiga essas questões em dois textos, sendo um do século XVII, Égalité des hommes et des femmes, escrito por Marie de Gournay; e o outro do século XX, o capítulo intitulado "História" da obra O segundo sexo de Simone de Beauvoir. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p203-213 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Adriana Delbó Pages: 214 - 226 Abstract: Este texto está vinculado a uma investigação contemporânea dos problemas de gênero a partir de Nietzsche, visando pensar se naquilo que já está dado como mulher não há a obediência a ideais que exigem que a cada gênero seja necessário atender às amarras que significam exatamente impedimentos à criação de si. Tomando como principal referência o aforismo 68 de A Gaia Ciência, pretendo discutir as cenas e os diálogos elaborados por Nietzsche, os quais desbancam a discussão que os homens travam para a determinação das mulheres. Contrapõe-se a isso, o poder das mulheres de elaborarem-se a si mesmas. Trata-se de uma leitura que vê em Nietzsche contribuições para a análise das dicotomias de gênero como determinações daquilo que se é, e, consequentemente, a impossibilidade para que cada pessoa possa fazer-se para além do que já está autorizado pelas sociedades. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p214-226 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Patrícia Sheyla Bagot de Almeida Pages: 227 - 238 Abstract: Se as considerações de Nietzsche sobre a mulher são variadas, difíceis e até problemáticas, posto que não se pode atribuir um único sentido ao termo, o mesmo, em parte, não ocorre com o termo emancipação. Nietzsche apresenta aforismos nos quais demonstra algumas noções atribuídas ao termo. Não obstante, o filósofo trata da emancipação feminina não do ponto de vista exclusivamente político, mas da mulher como uma ideia “em si”. Neste artigo, partirei de alguns aforismos da obra Além do bem e do mal, de 1886, na qual é possível verificar o sentido que ele dá ao termo, assim como esquadrinhar os indícios do modo como ele lê a crença da igualdade buscada pela mulher, a fim de demonstrar a incoerência da proposta de emancipação, uma vez que, a partir da quebra da distinção e do abandono da diferença entre homem e mulher, é que se exigia o sacrifício da internalização dos valores masculinos em um consequente esvaziamento, embotamento e regressão do que é singular na mulher. Para desenvolver o objetivo proposto, relacionarei o tema a outros aforismos a fim de ressaltar que a problemática da emancipação feminina como condição sine qua non de pertencimento do espaço público, locus no qual as ações políticas são efetivas e consideradas, fora também problematizadas por Wollstonecraft, no que Carole Pateman denominou o “dilema Wollstonecraft”, a saber, exigir igualdade é aceitar a concepção patriarcal de cidadania, na qual as mulheres devem parecer-se aos homens a fim de serem vistas no cenário público, âmbito da ação política. Assim, buscarei examinar a análise de Nietzsche no que tange a emancipação feminina e seus desdobramentos conceituais, sem, no entanto, deixar de realizar outras tecituras com autoras que pensaram essa concepção. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p227-238 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Larissa Drigo Agostinho Pages: 239 - 251 Abstract: Esse artigo analisa a crítica que Gayle Rubin tece contra a psicanálise de Freud e Lacan e, principalmente, a antropologia de Lévi-Strauss. Uma crítica que tem como objetivo compreender que tabus em torno da sexualidade e do gênero foram necessários para a construção de diversas sociedades ao longo da história, expondo as suas formas de repressão e suas políticas de sexo. Essas críticas serão comparadas à análise crítica de Deleuze e Guattari, principalmente no que diz respeito ao papel de Édipo na repressão do desejo, com o objetivo de explicitar como esses autores entendem a repressão do desejo e não apenas da sexualidade e sua função no interior da vida social. Partiremos de Engels, para traçar o quadro marxista a partir do qual o debate sobre feminismo se estendeu e expor a relevância do feminismo e do pensamento de Deleuze e Guattari para pensarmos a natureza da repressão. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p239-251 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Larissa Guedes Tokunaga Pages: 252 - 265 Abstract: O feminismo antipredicativo de Emma Goldman incita ao cotejo de seu prisma anarquista com o de uma filosofia de ontologia radical, uma transversalidade que resgata a matriz do ideário anarquista, a saber: o indivíduo. A partir do presente artigo, pretende-se realizar um diálogo entre o conceito de “individualidade humana” propugnado por Goldman e os ideários de Max Stirner e Henrik Ibsen, leituras de cabeceira da autora. A filosofia stirneriana, ao rechaçar as mediações externas, contribuiria para a valorização do “eu” enquanto bastião da revolta contra as instituições hegemônicas, ao passo que o teatro social moderno ibseniano estimularia a anarquista a entrever na arte um instrumento de consciência voltada à autonomia da mulher, a qual passaria a questionar sua objetificação e a se autogovernar enquanto ser humano. O devir, que imprimiria a marca de incongruência em relação a quaisquer modelos programáticos de insurgência, se consubstanciaria em um feminismo antipredicativo crivado pela filosofia e teatro dessubjetivadores/subjetivadores. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p252-265 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Luana Alves dos Santos Pages: 266 - 277 Abstract: Num primeiro plano, partindo do fato de que Diadorim é uma subjetividade atravessada pelo olhar do outro – ou seja, não se trata de uma subjetividade que narra a si mesma, mas de uma subjetividade cujo “ser” se põe, face a um narrador em primeira pessoa, como “ser-para-outro” – é preciso indagar em que medida a revelação de seu corpo como sendo corpo-de-mulher contribui, na maneira pela qual Riobaldo-narrador tece os fios do passado, para o acorde entre feminino e alteridade. Trata-se, portanto, de investigar o ajuste firmado, no romance de Rosa, entre o feminino e a condição de “Outro absoluto” que lhe é atribuída e sobre a qual discorre Simone de Beauvoir. Num segundo plano, para além do exame sobre o que o romance fala (seus ajustes e pactos), é preciso deslindar o que o romance dissimula. Em outras palavras, mais do que capturar Diadorim em uma identidade de gênero, ainda que provisória – visto que Diadorim parece não performar os padrões de masculinidade impostos por seus pares e daí receber o epíteto de “o delicado”; tampouco Diadorim “torna-se mulher”, mas é, discursivamente, “tornada” mulher, no advento de sua morte – pretendemos demonstrar que o que o romance dissimula é o escândalo, manifesto já no nome “Diadorim”, da desorganização das normas de inteligibilidade de gênero; a essa altura, tomaremos como pressupostos teóricos os estudos de Judith Butler sobre o tema. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p266-277 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Henrique Piccinato Xavier Pages: 278 - 295 Abstract: A partir de um dos primeiros textos publicados por Marilena Chaui, o “Terceira margem. Notas para um rodapé selvagem” de 1976, que inaugura a sua reflexão acerca do estatuto político das mulheres e, ao mesmo tempo, amadurece suas primeiras ideias acerca do que viria constituir o Nervura do real (sua principal obra sobre Espinosa), o nosso ensaio se pergunta acerca da possibilidade de um feminismo espinosano operando na obra de Chaui. Para tanto, procuramos dar conta de como o referido texto de 1976 aborda a aparente hipótese da rejeição da participação das mulheres na democracia no Tratado político de 1677 de Espinosa, sendo esta rejeição um problema enfrentado pelas principais feministas contemporâneas que recorrem à filosofia de Espinosa para fundamentar suas ideias e lutas. Levando em conta esta última consideração e o fato de que no Brasil ainda sejam raras as aproximações entre feminismo e Espinosa (algo diferente do que acontece internacionalmente), o nosso ensaio apresenta um apêndice contendo o mapeamento das principais obras, autoras e linhas do que contemporaneamente vem a ser chamado de feminismo espinosano. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p278-295 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Michele Teixeira Bonote Pages: 296 - 308 Abstract: O presente artigo revisita um debate na teoria feminista dos anos 1990 entre as teóricas Judith Butler, Seyla Benhabib e Nancy Fraser presente na coletânea Debates Feministas. O objetivo central é compreender a posição política de cada autora em relação às possibilidades – ou não – de um sujeito para o feminismo, que apontariam os caminhos para se pensar a emancipação – como Benhabib indica – ou a subversão – como Butler indica. Iniciamos o artigo com a exposição da teoria da performatividade de gênero de Butler e com o pensamento de Benhabib sobre o self situado; posteriormente apresentamos a disputa política entre as autoras; por final, a partir da leitura de Fraser, trazemos uma tentativa de reconciliação entre os paradigmas que cada autora trabalha. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p296-308 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Izilda Johanson Pages: 309 - 319 Abstract: Quem frequenta discussões e debates dedicados à filosofia de Simone de Beauvoir sabe que não é incomum surgir em algum momento a inevitável questão sobre essa grande pensadora do século XX ter-se considerado principalmente escritora, mas não filósofa. Nossa proposta é de enfrentar essa questão diretamente como uma questão ou um problema de filosofia, e não um problema de Simone de Beauvoir com a filosofia, como alguns autores e autoras, filósofas feministas inclusive, há algum tempo vêm insistindo em fazer. Entendemos que o engajamento intelectual e feminista de Simone de Beauvoir é não só compatível como necessário à afirmação da autenticidade e originalidade de sua filosofia. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p309-319 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Melissa Tami Otsuka Pages: 320 - 332 Abstract: Trata-se de um comentário acerca do papel das figuras mitológicas de cosmogonias antigas na construção de ideais de feminilidade que Simone de Beauvoir evoca n’O Segundo Sexo (1949) de acordo com as narrativas modernas acerca do passado mítico feminino. O presente artigo busca sobrevoar a abordagem da filósofa acerca dos discursos míticos da criação segundo os estudos de seus interlocutores etnólogos e antropólogos: a divindade da mulher nas sociedades, consideradas por eles como “primitivas”, e a sua dessacralização diante da moral cristã. Essa é uma das investigações realizadas por Beauvoir para compreender a situação de opressão da mulher, a saber, como através de discursos e narrativas sobre o corpo se tenta colocar a mulher como o Outro absoluto. Tendo em vista esse recorte, nosso enfoque, portanto, passa por apresentar a análise feita pela filósofa que torna possível identificar como o corpo, ora interpretado por explicações sacralizadoras do que é feminino, ora repudiado pelo cristianismo como pecado, torna-se expressão da alteridade. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p320-332 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Veronica Calado Pages: 333 - 343 Abstract: O primeiro tratado versando sobre a necessidade do desenvolvimento de cooperação internacional para a defesa dos direitos humanos, independentemente de raça, sexo, língua ou religião, foi a Carta das Nações Unidas (1945). A partir de então outros documentos, tais como a Convenção Interamericana sobre a concessão dos direitos civis à mulher (1948), Convenção sobre os Direitos Políticos (1953), Convenção para eliminar todas as formas de discriminação contra a mulher (1979), foram firmados. No Brasil, a questão da desigualdade de gênero voltou a ser debatida, na esteira no processo de redemocratização nacional, a partir da década de 1980. Não obstante, a agenda política internacional persiste na defesa da superação da desigualdade sob o viés individual, ignorando sua interface com outras questões, tais como: pobreza, raça ou etnia, entre outras. Negligenciam-se também aspectos importantes ao debate, tais como a desnaturalização e a dimensão identitária do corpo, e a ética feminista da negação do dever de cuidado. Observar a mulher para além dos limites impostos pela divisão sexual e social do trabalho pode auxiliar no processo de efetivação dos direitos e garantias fundamentais assegurados a esse grupo focal pela via normativa, mas reiteradamente negados pelos costumes. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p333-343 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Tessa Moura Lacerda Pages: 344 - 348 Abstract: Neste relato, tenho a difícil e honrosa tarefa de me colocar ao lado de grandes mulheres, professoras do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, recuperando muito brevemente aspectos de minha trajetória pessoal. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p344-348 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Carla Milani Damião Pages: 349 - 363 Abstract: Este artigo visa tratar do relato e da memória de onze professoras que compõem ou compuseram o corpo docente do departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo. Testemunhos de diferentes intensidades apresentados no II Encontro do GT de Filosofia e Gênero da ANPOF, realizado em setembro de 2019 no Departamento de Filosofia (FFLCH) da USP. Busca-se, com a mesma atenção, a fundamentação de teorias feministas sobre a narrativa e a escuta de mulheres, tendo por esteio uma nova compreensão de subjetividade que pressupõe a crítica à tradição do pensamento filosófico e à construção metafísica da subjetividade. Com base na ideia de “eu relacional”, a crítica não homogênea de feministas torna possível uma compreensão de relatos variados, testemunhos de opressão revelados e de discriminações, revelados em narrativas. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p349-363 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)
Authors:Fernanda Miguens, Carla Rodrigues, Judith Butler Pages: 364 - 387 Abstract: As reflexões anglófonas e teóricas sobre gênero muitas vezes assumem o caráter generalizante das suas próprias afirmações sem antes colocar a pergunta sobre se o “gender” existe como termo, ou se existe da mesma maneira em outras línguas. Parte da resistência à entrada do termo “gender” em contextos não anglófonos surge de uma resistência anterior ao inglês ou, de fato, apoiada na sintaxe de uma língua na qual as questões de gênero são resolvidas através de inflexões verbais ou de uma referência implícita. É claro que uma forma mais abrangente de resistência tem relação com os medos de que a categoria possa produzir, por si mesma, formas de liberdade sexual e desafios para as hierarquias existentes na língua para a qual está sendo traduzida. O ataque político e organizado ao gênero e aos estudos de gênero que está acontecendo no mundo todo tem muitas fontes, mas não é esse o foco desse ensaio. Este ensaio sustenta que não pode existir teoria de gênero sem tradução e que o monolinguismo anglófono muitas vezes assume que o inglês constitui uma base suficiente para as afirmações teóricas sobre gênero. Além disso, na medida em que o uso contemporâneo do termo “gender” vem de uma criação introduzida por sexólogos e, posteriormente, reapropriada pelas feministas, desde o início o termo esteve vinculado à inovação gramatical e aos desafios sintáticos. Sem um entendimento da tradução – com sua prática e seus limites – os estudos de gênero não podem existir num enquadramento global. Finalmente, o processo de se tornar de um gênero, ou de mudar de gênero, requer tradução para comunicar outros termos de reconhecimento das novas modalidades de gênero. Sendo assim, a tradução é parte constitutiva de qualquer teoria de gênero que busque ser multilíngue e aceite o caráter historicamente dinâmico das línguas. Esse enquadramento pode facilitar o caminho para o reconhecimento de diferentes gêneros, assim como de diferentes considerações sobre a identidade de gênero (essencialista, construtivista, processual, interativa, interseccional), que requerem tanto a tradução quanto uma definição de seus limites. Sem a tradução e a invenção histórica do termo “gender” não há como compreender a categoria dinâmica e mutável do gênero ou as resistências que ela hoje enfrenta. PubDate: 2021-12-21 DOI: 10.11606/issn.1517-0128.v39i2p364-387 Issue No:Vol. 39, No. 2 (2021)