Authors:Sergio Adorno Pages: 3 - 3 Abstract: Este número é, em grande medida, dedicado ao Bicentenário da Independência no Brasil. O dossiê contempla 12 contribuições que abordam recortes temáticos variados da vida social e política da sociedade nacional independente em sua contemporaneidade. Embora não tenha sido propósito do dossiê rever a historiografia da Independência ou preencher lacunas não raro apontadas por historiadores e demais cientistas sociais, questões dessa ordem e natureza não estiveram ausentes nas contribuições. O conjunto dos ensaios é movido por ao menos duas indagações: O que singulariza as ideias de soberania e modernidade na sociedade brasileira' Como se materializou em ações, planos governamentais, políticas públicas, pensamento social, ciência, cultura e educação a dialética entre modernidade e tradição e quais seus desdobramentos' O dossiê explora desafios e impasses sobretudo nas contribuições que focalizam paradoxos e antinomias do pensamento social no Brasil. Sob essa perspectiva, os ensaios abordam as tensões entre memória, política e escrita da história ao colocar em evidência diferentes narrativas sobre a Independência como fato e processo histórico. Nessa mesma linha, abordam-se três momentos decisivos nos quais as relações entre Estado e sociedade foram problematizadas, pondo em destaque temas como centralização e descentralização política, a adequação das instituições políticas às características dessa sociedade e o enfrentamento da questão democrática. Não é estranho que se possa aludir a conflitos de tempos no Brasil contemporâneo, marcados pela perda de evidência do horizonte de futuro como sincronizador social, tema tratado em um dos ensaios. Do mesmo modo, comparecem ao dossiê abordagens sobre o papel da ciência, nesses 200 anos, na formação do Brasil como nação, assim como a respeito do papel das artes - literatura, teatro, cinema, artes visuais, canção popular - na conformação dos chamados “modernismos tardios”. No interior desse conjunto, destaca-se a entrevista concedida aos curadores do dossiê pelo reconhecido historiador Carlos Guilherme Mota,1 um estimulante overview sobre obras de referência para compreender a historiografia pós-Independência. O dossiê reúne também exame de fatos e processos sociais relevantes para a compreensão do Bicentenário da Independência, entre os quais: a construção da esfera pública desde 1822 e suas crises atuais; as práticas racistas e xenofóbicas, que violam direitos humanos, obscurecem diferenças, desigualdades e desconhecem a existência coletiva de seus portadores; as dinâmicas sociais que estabelecem a existência de grupos armados com ambições hegemônicas sobre territórios, populações e mercados ilegais; a destruição e degradação dos biomas nacionais acenando para uma catástrofe ambiental; e os padrões de acumulação e segregação socioespacial em São Paulo, alavancados por operações imobiliárias de grande envergadura. Este número contém ainda um dossiê que trata de distintos diagnósticos dos problemas e dilemas da educação contemporânea, vistos sob um ângulo determinado: o de livros e autores que, ao se tornarem “clássicos” nesse campo, pautaram temas estratégicos para a compreensão das relações entre atores, bem como do cotidiano escolar, dos valores em mudança, dos desafios em períodos singulares como o de pandemias e sobretudo para a formulação de políticas públicas educacionais. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.001 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Antônio David, Alexandre Macchione Saes, Carlos A. de M. R. Zeron Pages: 7 - 22 Abstract: A ideia de Brasil soberano e moderno, tão marcante no ensaísmo, na pesquisa acadêmica e no imaginário coletivo, designa um vasto horizonte de aspirações comuns que propôs ciclicamente promessas de um futuro de prosperidade, até ser confrontado pela complexidade dos desafios atuais, às vésperas do segundo centenário da Independência. O artigo interroga as revisões das ideias de soberania e modernização no ensaísmo e no pensamento histórico-econômico. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.002 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Cecilia Helena de Salles Oliveira Pages: 23 - 42 Abstract: Este artigo discute as origens de certos saberes acadêmicos e não acadêmicos em torno da independência do Brasil, inserindo-os em um jogo de permanente tensão entre memória, política e escrita da história. Ao longo de 200 anos, essa tensão tem acompanhado a temática da Independência, garantindo-lhe uma condição central na história do Brasil e renovando sua atualidade. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.003 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:André Botelho, Gabriela Nunes Ferreira Pages: 43 - 64 Abstract: Três momentos decisivos das relações entre Estado e sociedade no pensamento social e político são abordados: no Império, o debate entre Tavares Bastos e o Visconde do Uruguai; na Primeira República, Oliveira Vianna é o autor central; na transição da ditadura civil-militar de 1964-1985 para a democracia, Raymundo Faoro e Florestan Fernandes são incontornáveis. Se no primeiro momento o debate sobre centralização e descentralização política concentra os interesses, no segundo a questão da adequação das instituições políticas à sociedade é o grande tema; mas, já no terceiro momento, o enfrentamento do problema da democracia nas relações entre Estado e sociedade não poderia ser mais adiado. Traçando esse histórico, no Bicentenário da Independência, queremos repensar impasses dessas relações que permanecem em aberto no presente. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.004 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Camila Rocha, Jonas Medeiros Pages: 65 - 84 Abstract: Neste artigo apontamos como a crise do pacto democrático de 1988 se originou a partir de novas dinâmicas fomentadas pela própria esfera pública pós-burguesa brasileira, a qual se desenvolveu em meio ao processo de redemocratização nacional. Na primeira seção apontamos de forma resumida como se deu a construção da esfera pública no Brasil desde 1822 até a redemocratização em 1988. Na segunda, apontamos como se deu a gênese e o desenvolvimento da esfera pública pós-burguesa no país, e, nas terceira e quarta seções, apontamos como sua crise se originou a partir de embates no âmbito do debate público que passavam ao largo da institucionalidade e mobilizavam a contrapublicidade: performances disruptivas e recebidas como indecorosas. Nesse sentido, argumentamos que o bolsonarismo, ao fomentar o que denominamos como contrapublicidade dominante, coloca a Nova República, novamente, sob a Espada de Dâmocles. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.005 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Rodrigo Turin Pages: 85 - 104 Abstract: O ensaio se propõe a pensar os conflitos de tempos no Brasil contemporâneo a partir do diagnóstico de uma perda da evidência do horizonte moderno de futuro. Busca-se interrogar de que modo essa perda de evidência do horizonte de futuro como sincronizador social se revela tanto na implosão do tempo da Nova República, como na emergência do tempo planetário na história nacional, expresso pelos efeitos da mudança climática. Em ambas as dimensões, que agora se entrecruzam de maneira decisiva, a singularidade temporal da nação é profundamente colocada em questão. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.006 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Carlos Guilherme Mota Pages: 105 - 116 Abstract: Entrevista concedida pelo historiador Carlos Guilherme Mota à revista Estudos Avançados em que o historiador aborda aspectos conceituais de sua obra e das obras de Roberto Schwarz e Florestan Fernandes, bem como fatos de sua relação com escritores como Caio Prado Jr., Alfredo Bosi e Emília Viotti da Costa, tendo em vista as questões culturais da realidade brasileira. Ao final, o historiador apresenta um pequeno glossário com termos significativos de seu pensamento e sua obra. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.007 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Kabengele Munanga Pages: 117 - 130 Abstract: As ondas migratórias que partiram do próprio berço da humanidade cientificamente situado no continente africano e que se prolongam até hoje por motivos históricos diversos, o tráfico humano dos africanos e as invasões coloniais dos territórios da América, da África e da Asia somando juntaram no mesmo território geográfico descendentes de povos e culturas diferentes. Nesses encontros houve enriquecimentos transculturais incontestáveis; os sangues se misturaram; os deuses se tocaram e as cercas das identidades vacilaram, por um lado. Mas, por outro lado, as diferenças continuam a ser motivos de conflitos, pois manipuladas ideologicamente pelas classes dominantes na política de dividir para dominar. Esses conflitos se traduzem notadamente pelas práticas racistas e xenofóbicas que engendram a violação dos direitos humanos dos diferentes e consequentes as desigualdades sociais decorrentes. A questão que se coloca é como estabelecer a equidade e a igualdade de tratamento, sem antes reconhecer a existência coletiva dos portadores das diferenças e suas identidades. Apesar dos progressos da ciência e tecnologia, da globalização da economia do mercado na óptica capitalista neoliberal e dos meios de comunicação, os debates sobre a diversidade e suas diferenças colocam todos os países no mesmo barco. Este texto tem como proposta discutir algumas questões em debate sobre diversidade, partindo das realidades brasileiras dos últimos vinte anos depois da Conferência de Durban. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.008 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Jacqueline de Oliveira Muniz, Camila Nunes Dias Pages: 131 - 152 Abstract: Busca-se contribuir para a compreensão das dinâmicas sociais, econômicas e políticas onde se estabelecem domínios armados com suas ambições de hegemonia sobre território e população e de monopólio de mercados ilegais. Parte-se das práticas de governança criminal do PCC em São Paulo e das milícias no Rio de Janeiro como ilustrações de exercício de governos criminais, explorando suas similaridades e diferenças. Propõe-se uma grade conceitual-analítica a partir de alguns elementos centrais como as múltiplas relações com diversos atores estatais, a complexa inserção comunitária e a diversificação criminal e regulação de mercados (i)legais. A abordagem da governança criminal coloca-se como alternativa às narrativas do “crime organizado”, substituindo noções teórico-abstratas por concepções teóricas-conceituais construídas a partir da observação empírica dos efeitos produzidos nos territórios sob domínio armado. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.009 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Ivan Francisco Marques Pages: 153 - 168 Abstract: Ao longo dos últimos 100 anos, o ideário modernista foi objeto de numerosas releituras, atualizações e revisões críticas. A partir de meados do século XX, artistas de diversos campos – literatura, teatro, cinema, artes visuais e canção popular, entre outros – tomaram as vanguardas da década de 1920 como matrizes de invenção e pensamento, que buscaram atualizar e radicalizar. Na fase mais dura do regime militar, movimentos então rotulados como “marginais” procuraram no modernismo as fontes de uma arte de cunho experimental, irônico e subversivo. Este artigo propõe uma reflexão sobre esses “modernismos tardios”, sem desconsiderar os estudos críticos, um tanto avessos à tradição modernista, produzidos pela Universidade no mesmo período – que, segundo fontes diversas, marca simultaneamente o ápice e o encerramento da influência do Modernismo na cultura brasileira. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.010 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Luiz Marques Pages: 169 - 184 Abstract: Duas constantes atravessam nossa história nos dois últimos séculos: a escravidão e seu legado nas relações entre os humanos, e a destruição nas relações dos humanos com a paisagem natural e com as outras espécies. O presente artigo atém-se a uma breve análise desse segundo traço estruturante da sociedade brasileira. O discurso proferido em 1823 por José Bonifácio de Andrada e Silva assinala o ponto de partida de um processo que só viria desde então a se agravar. Após 200 anos de destruição, três evidências se acumulam: 1- após 50 anos (1970-2020) de destruição e degradação de mais de 2 milhões de km2 dos biomas nacionais, a sociedade brasileira avança na direção de uma catástrofe ambiental sem precedentes em nossa história; 2- esse avanço se acelerou no último decênio; e 3- múltiplos indicadores permitem afirmar que já estamos nos estágios iniciais desse colapso. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.011 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Mariana Fix, Pedro Fiori Arantes Pages: 185 - 210 Abstract: Este artigo atravessa diferentes camadas históricas na metrópole paulistana, recolhendo pistas sobre operações imobiliárias de grande envergadura decisivas para o padrão de acumulação e segregação socioespacial em São Paulo no último século. O primeiro ato, nosso ponto de partida, é a operação imobiliária realizada a partir de 1910 pelo capital financeiro internacional em associação com agentes públicos e privados locais, em terras que correspondiam a mais de um terço da área urbana do município, sob liderança da Companhia City. O segundo ato, lida com os primórdios da articulação mais recente por trás da produção de um skyline que mimetiza aquele das chamadas cidades globais, nas margens do Rio Pinheiros. Entre eles, outra operação com terras que marcaria a história da cidade, com a captura de 21 mil hectares de áreas lindeiras ao Rio Pinheiros, obtidas com a canalização e retificação do rio, e drenagem de suas margens. A sucessão desses arranjos e coalizões que discutiremos não é linear nem indica necessariamente progresso, menos ainda desenvolvimento, mas sim estratégias de cada momento da máquina imobiliária de crescimento. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.012 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Nísia Trindade Lima, Dominichi Miranda de Sá, Ingrid Fonseca Casazza, Carolina Arouca Gomes de Brito Pages: 211 - 236 Abstract: Este artigo traça um panorama da história da atuação das ciências no processo histórico de formação do Brasil como nação. Entre 1822 e 2022, os cientistas deram contribuições cruciais ao debate sobre constituição do Estado; identidade nacional; cidadania; visões sobre populações; políticas públicas de saúde e educação; projetos de criação de universidades; circulação internacional de saberes; soberania, desenvolvimento nacional, inserção do Brasil no mundo e convivência entre o atraso e a modernidade. Sugere-se que esses temas centrais em 1822 e 1922 devem ser atualizados na agenda do Bicentenário da Independência. Tal atualização requer uma análise do processo histórico em que se destacam tendências acentuadas pela pandemia de Covid-19: a importância das ciências, e da sustentabilidade da atividade científica, na resposta à crise e aos desafios contemporâneos; a persistência das desigualdades, inclusive as relacionadas ao desenvolvimento científico e tecnológico, e a questão ambiental, transversal e incontornável para todas as áreas do conhecimento. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.013 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Juliana de Souza Silva, Katiene Nogueira da Silva, Renata Marcílio Cândido Pages: 237 - 254 Abstract: Nosso texto, assim como todos os que compõem a iniciativa deste dossiê, é o resultado dos esforços de evidenciar os livros e autores que se tornaram “clássicos” para cada uma de nós. Assim, os autores aqui em pauta foram escolhidos por serem leituras estruturantes da forma como pensamos e concebemos o mundo e a área à qual decidimos dedicar nossos esforços de pesquisa e de reflexão. Desse modo, neste artigo, retomamos as reflexões propostas por Maria Helena Souza Patto e Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron sobre a desigualdade escolar, e Israel Scheffler sobre o discurso pedagógico que forja certas compreensões sobre ela. No momento contemporâneo, no qual a emergência de uma pandemia e seu consequente isolamento social impõem que a escolarização, para que continue ocorrendo, reinvente suas práticas, seus tempos e seus espaços, modificando a relação pedagógica, o acesso à tecnologia, o capital cultural herdado e a escolarização dos pais mostram-se como trunfos para o sucesso escolar. Nesse âmbito, retomar as contribuições de tais autores mostra-se um exercício potente de reflexão. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.014 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Patrícia Aparecida do Amparo, Ana Laura Godinho Lima, Denice Barbara Catani Pages: 255 - 270 Abstract: Na situação pouco esperançosa imposta pela devastação a que nos submeteu o ano 2020, a inquietação acerca dos rumos possíveis para a educação num futuro próximo nos leva a procurar modos de propor a educação que se alicercem sobre valores de cuidado com o mundo. Assim, o artigo retoma o pensamento educacional de José Mário Pires Azanha e busca “pensar com” ele possibilidades educativas no nosso tempo. Ressalta-se como as formulações e ações do autor, tecidas no interior de sua produção teórica e atividades profissionais, têm oferecido elementos estruturantes aos debates acerca da escola, do trabalho pedagógico, das relações entre professores e alunos e da pesquisa educacional. Afirma-se, por exemplo, o modo como ele antecipou o empenho para com a justiça social educativa, expressa pela universalização do acesso à escola, na história educacional paulista. Unindo pensamento e ação o autor elabora proposições científicas e políticas num modelo de investigação educacional e de constituição da pedagogia que acolhe a vida e o trabalho escolar como construções sociais, valorizando a autonomia dos professores e das escolas na elaboração do projeto político pedagógico da instituição. Concebemos assim a reflexão contida no texto como uma situação exemplar para se compreender nossos “clássicos do pensamento educacional”, tomando a ideia de clássico a partir das sugestões de Ítalo Calvino. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.015 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Domingos Fernandes Pages: 271 - 286 Abstract: O principal propósito deste artigo é apresentar e discutir algumas das ideias mais relevantes da extensa e intensa obra de John Goodlad (1920-2014) no que se refere a questões relacionadas com a renovação e a melhoria da educação, das escolas e da sociedade democrática e social. Por meio da leitura e da consulta de alguns dos seus textos reconhecidamente mais influentes, foi possível, por um lado, produzir uma breve síntese biográfica do autor e, por outro, identificar algumas das linhas mestras que orientaram o seu pensamento e a sua ação cívica. As suas pesquisas e a sua incansável luta para melhorar a educação e a democracia, que perspetivava numa relação simbiótica, foram sempre orientadas pela ideia de que o conhecimento sociológico crítico e profundo das escolas é uma condição indispensável para a sua renovação e melhoria. E esse é, muito provavelmente, o seu mais fundamental legado. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.016 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:José Cláudio Sooma Silva, José Gonçalves Gondra Pages: 287 - 304 Abstract: O artigo focaliza a chamada história genealógica, sublinhando as principais categorias mobilizadas por Michel Foucault, consideradas como ferramentas alternativas para o exercício de produção de sentidos sobre acontecimentos diversos. Em seguida, explora as apropriações de Foucault no campo da História da Educação, a partir do conjunto de artigos publicados na Revista Brasileira de História da Educação, de 2001 a 2021. Esse percurso de análise foi construído com o anseio de pensarmos esse autor como um clássico que, ao sofrer (de)formações, pode contribuir para a emergência de outras ênfases interpretativas nos estudos educacionais. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.017 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Décio Gatti Junior, Leonardo Batista dos Santos Pages: 305 - 320 Abstract: As ideias do britânico Herbert Spencer (1820 a 1903) abrangeram diferentes áreas do conhecimento e, em sua época e para além dela, influenciaram discursos políticos reformistas pelo mundo, a saber: importância da ciência e de seu ensino nas escolas; contrariedade da interferência do estado na vida dos indivíduos; otimismo em relação ao progresso; seleção por competência; teoria evolucionista da sociedade. Sobre a educação advogou a existência de uma hierarquia de atividades: 1ª) conservação própria; 2ª) necessárias à conservação própria; 3ª) disciplina dos filhos; 4ª) procedimentos sociais e relações políticas; 5ª) restante da vida (gostos e sentimentos). Consideramos que a compreensão das ideias de Spencer favorece o entendimento do mundo histórico desde o final do século XIX até primeiras décadas do século XX, mas também permite refletir sobre questões importantes da atualidade. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.018 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)
Authors:Roni Cleber Dias de Menezes, Vivian Batista da Silva Pages: 321 - 335 Abstract: Após meses com as salas de aula fechadas, professores e alunos ainda não vislumbram quando se poderá voltar às escolas. Roger Chartier, no artigo “Mundo pós-pandemia”, publicado em 1º de junho na página virtual do Sesc-SP, destaca a “infinita tristeza do ensino” no isolamento. Na esteira dessa percepção, vimos desde a interrupção das aulas avaliações as mais diversas sobre o papel da instituição escolar e da socialização que ela realiza para a formação educacional da infância e juventude. Interessados em alargar a visão sobre o tema, propomos historicizar o que chamamos aqui de “imagem da sala de aula”. Para concretizar nosso propósito, escolhemos para análise as imagens presentes nas famosas histórias em quadrinhos francesas do Petit Nicholas, assinadas por René Goscinny e ilustradas por Jean-Jacques Sempé entre 1956 e 1964. Tais imagens serão interpeladas com o auxílio da noção de representação, na voz de autores há muito tempo lidos e relidos entre os educadores: Émile Durkheim e Roger Chartier. O uso do conceito de representação nos será útil para explorar as múltiplas respostas dos autores de seus respectivos tempos históricos sobre os problemas e as potências da escola. Lembrando as palavras de Ítalo Calvino (1993), convém dedicarmos um tempo para revisitar leituras importantes de nossa formação. As referências permanecem as mesmas, mas nossas trajetórias e desafios mudam. A atual situação é um convite à releitura dessas obras “clássicas” que, pela sua fecundidade, sobretudo quando explicam a força da representação, permitem refletir sobre a construção do desejável em educação hoje. PubDate: 2022-06-03 DOI: 10.1590/s0103-4014.2022.36105.019 Issue No:Vol. 36, No. 105 (2022)