Authors:Frederico Pieper Pages: 14 - 30 Abstract: A relação entre religião e violência, apesar de há muito discutida, tende a se reificar em duas posições extremas. De um lado, compreende-se que a religião, não obstante algumas atitudes violentas, tem como núcleo central um discurso e uma prática de paz. No outro extremo, há a associação muita rápida entre religião e violência, como se os termos fossem sinônimos. Tendo em vista a complexificação desse quadro, o presente artigo busca explorar as contribuições de René Girard, mostrando como ele se situa para além dessa polaridade, ao reconfigurar o lugar da violência no interior da religião. Para ele, de um lado, a violência é a alma e o coração da religião. Por outro lado, a religião visa à paz. Para entender essa aparente ambiguidade, o artigo explora as noções de desejo mimético e de vítima sacrificial. O artigo aponta como em Girard o desejo mimético conduz à exacerbação da violência e ao conflito. Para solucionar essa violência maior, recorrese à vítima sacrificial, cuja função é recriar, sob outras bases, a coesão social. Portanto a violência intrínseca à religião serve como meio para reestabelecer o convívio social. Com isso, o artigo procura indicar em que medida Girard assume a violência intrínseca à religião, ao mesmo tempo em que indica como ela pode conduzir à paz. Ao articular dessa maneira violência e paz, percebe-se como ele foge a posturas que negam uma ou outra face da religião, mas busca articular ambas. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3577 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:Abdruschin Schaeffer Rocha, Wanderley Pereira da Rosa Pages: 31 - 46 Abstract: O presente artigo propõe-se a refletir sobre os limites da relação entre religião e violência tendo como referência principal o teólogo belga Edward Schillebeeckx. Com isso em foco, sugere a violência como algo que não necessariamente tem na religião sua origem, bem como procura mostrar que a religião também não pode ser atrelada automaticamente à violência ou mesmo à não violência. Seu ponto de partida é a conceituação de essencialismo, aplicado tanto à religião como à violência, uma vez que, conforme o ponto de vista dos autores, a categoria de análise essencialista fundamenta uma equivocada e apressada relação entre esses dois entes. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3636 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:Ellton Luis Sbardella, Clélia Peretti Pages: 47 - 60 Abstract: O presente artigo discute três tópicos específicos do pensamento de René Girard, a saber: teoria mimética e desejo; Sagrada Escritura e as vítimas da violência; vocação cristã e denúncia da violência. Para isso, definimos como objeto de investigação Cristianismo e violência, a partir da teoria sobre o mecanismo da vítima expiatória, proposta nos livros Mentira Romântica e Verdade Romanesca, e também A Violência e o Sagrado, desenvolvida nos livros Coisas ocultas desde a Fundação do Mundo e Eu via Satanás caindo como um relâmpago. A metodologia consistiu no exame das obras, a fim de identificar questões centrais, definição e articulação dos conceitos propostos, a hipótese, sua demonstração e as críticas tecidas pelo autor. Girard apreende a violência humana como elemento desagregador da vida em sociedade, a qual exige mecanismos de controle inseridos no âmbito do sagrado e da religião. A teoria desse autor oferece uma contribuição para o debate pós-secular sobre a religião. Ele inaugura novas discussões entre a teologia e as ciências sociais e humanas, dando uma nova clareza às questões referentes ao embasamento antropológico da teologia. Propõe uma abordagem nova à doutrina da expiação e oferece interpretações signifi cativas de textos bíblicos centrais. Considera a Bíblia peculiar, no tocante ao tratamento das vítimas da violência, pois se diferencia das narrativas míticas. Nas Escrituras, a violência e o sacrifício não são absolutos, e não vêm de Deus; os seres humanos atribuem a Ele. A vocação cristã é a preocupação com as vítimas das violências e a defesa delas, assim como Jesus fez. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3617 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:Elisa Rodrigues Pages: 61 - 79 Abstract: Este artigo propõe uma refl exão sobre a relação entre religião e violência especificamente a partir das religiões judaicas e cristãs, as quais influenciaram a história do pensamento e da cultura ocidental. Para tanto, primeiramente, apresentamos uma breve exposição das noções de mito como a parte discursiva da religião e rito como parte prática, com base no pensamento do fenomenólogo Joachim Wach. Na sequência, demonstramos como mitos judaicos e cristãos, cujo conteúdo remonta a cenas da história do “povo escolhido” por Iahweh, são impregnados de violência, ilustrada por guerras e combates entre judeus e seus inimigos do antigo Mediterrâneo. Por fim, problematiza-se como esses discursos têm sido recepcionados pelas práticas religiosas contemporâneas, especialmente, de grupos religiosos pentecostalizados e quais as consequências de interpretações literalistas desse conjunto de textos bíblicos. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3615 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:Katiuska Florencia Serafin Nieves, Carolina Teles Lemos Pages: 80 - 93 Abstract: Atualmente, em diversos locais e espaços sociais, a violência agride, fere, desonra, humilha, ultraja, maltrata, muda, transforma de modo direto ou indireto a vida de indivíduos, famílias e povos inteiros, conduzindo todos compulsoriamente a enfrentar o desafi o imposto pela adversidade, dor e sofrimento, ao mesmo tempo em que o imponderável pode lhes possibilitar novas e inesperadas aberturas para buscar “um sentido da vida”: vida individual, vida coletiva. Esta pesquisa, de natureza biográfica, compreende a análise teórico-empírica da história de vida de uma mulher que sofreu e ainda se encontra em contexto de violência. Objetivou-se, por meio de entrevista com questionário semiestruturado e recorrendo a categorias como violência, religião e sentido, identificar que sentido de vida o sujeito A construiu no seu cotidiano e se a religião se apresenta a ela como fator que contribui para sua construção naquele contexto. De modo qualitativo, avaliou-se que o sujeito A fundamenta sua mística religiosa na busca de sentido às suas situações de violência, de modo a sustentar suas atitudes positivas no curso da vida, marcada por injustiças e silêncio social. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3600 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:Rudolf von Sinner, Euler Renato Westphal Pages: 94 - 107 Abstract: Conforme levantamentos recentes, temos no Brasil um crescimento de violência letal, bem como indícios de uma brutalidade crescente dos crimes. Tais dados apontam para a existência de uma ampla percepção da impunidade e de uma aparente naturalidade do ato de matar. Autojustiça, linchamentos, desprezo a reais e supostos infratores, a busca de vingança e do exercício de poder sobre outros encontram, assim parece, suporte num tipo de justiça retributiva num ambiente onde as relações entre pessoas são regidas por uma plausibilidade de violência que impede a ressonância e o sentimento de autoeficácia. O objetivo deste ensaio é analisar a situação no Brasil, recorrendo a aclamados intérpretes como o historiador Sérgio Buarque de Holanda, ponderando razões da violência recorrendo à teoria da ressonância de Hartmut Rosa, bem como refletir sobre uma teologia da justiça que, antes de promover vingança, enfatize transformação, perdão e reconciliação, retomando reflexões de Hannah Arendt. Referindo-se a Jürgen Moltmann, o artigo procura mostrar como uma teologia pública pode contribuir para tal transformação. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3658 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:Luiz Alexandre Solano Rossi Pages: 108 - 118 Abstract: Há um tipo de violência que se destaca no Antigo Testamento. Trata-se de uma violência contra o ser humano e, mais especificamente, contra o ser humano pobre. Pretende-se neste artigo pesquisar as principais expressões de violência utilizadas no idioma hebraico e a forma como elas atingem o pobre. A conclusão a que se chegará é que a violência contra os pobres é uma construção social, política e econômica. A violência e a injustiça surgem por mãos humanas: os poderosos tratam as pessoas pobres – que são a maioria do povo de Deus – como fontes de riqueza e trabalho não remunerado, usando coerção, suborno, desonestidade, tecnicismos legais e violência. Não se trata, portanto, de violência com raízes teológicas e naturais. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3594 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:David Tombs Pages: 119 - 132 Abstract: Este artigo recorre à hermenêutica da libertação latino-americana para ler as narrativas dos evangelhos sobre a crucificação à luz dos relatos de tortura na América Latina. As práticas de tortura empregadas por regimes autoritários da América Latina nos anos 1970 e 1980 mostram como a tortura foi usada para o terror de Estado. Relatos sobre essa época também confirmam a frequência da violência sexual em práticas de tortura. Aplicando essa perspectiva a uma leitura das narrativas dos evangelhos, o artigo sustenta que os romanos também usaram a crucificação como terror de Estado. As crucificações romanas eram punições públicas para intimidar e controlar escravos e povos sujeitados. Além disso, para reforçar a mensagem de terror, as crucificações incluíam humilhação sexual para degradar e rebaixar suas vítimas. O artigo sustenta que o desnudamento e a exibição de Jesus nu registrados nos evangelhos constituíram uma forma de humilhação sexual e deveriam ser chamados de abuso sexual. Ele também pergunta se outros abusos sexuais poderiam ter ocorrido no pretório. Conclui que a possibilidade de outros abusos é uma questão importante a ser considerada, mesmo que não possa ser respondida com certeza. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3579 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:Alease Brown Pages: 133 - 151 Abstract: This article reconsiders historically based arguments for Christian martyrdom, subjecting the tradition to an analysis suited to liberation of the marginalized. It begins with a description of the historical development of scholarship on martyrdom. From there, the essay analyzes Moss’s arguments regarding the discursive use of the image of the martyr, alongside Recla’s arguments regarding the Christian martyr as autothanatos, one who enacts self-death. Moss and Recla demonstrate the simultaneous fabrication and erasure of violence from the narratives of martyrdom. The article reconciles these opposing conclusions by applying the contextual lens of honor/shame to the analysis of martyrdom. Doing so reveals that, more than attempts to emphasize violence and/or suffering, martyrs, as culturally marginalized persons, represent for early Christians, the ideal Christian life--attitude of the marginalized, which is that of making radical claims of and to human dignity. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3618 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:Jefferson Zeferino Pages: 152 - 165 Abstract: Por mei o de um mapeamento das publicações sobre teologia pública no Brasil, nota-se que são recorrentes os textos que conjugam pastoral e teologia da cidadania. Essa relação é desenvolvida como modo de contribuição aos estudos em teologia pública, bem como tentativa de reflexão acerca do problema da violência. Ambienta essa discussão o contexto amplo de violências, o qual desmascara pretensas neutralidades e requer, do fazer teológico, uma aterrissagem atenta, histórica e sensível ao sofrimento humano. A partir da literatura marginal (Carrascoza) e da hermenêutica filosófica de Ricoeur, demonstra--se a contraposição entre cuidado e violência e se dialoga com a noção de pastoral como elemento que pode auxiliar a aprofundar a compreensão do cuidado como uma constante antropológica a ser refletida e cultivada enquanto elemento agregador na construção de pequenos espaços de cuidado e gratuidade. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3602 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:José Adriano Filho Pages: 168 - 182 Abstract: As citações, alusões e ecos das Escrituras judaicas presentes nas cartas de Paulo não são apenas textos-prova, mas estão conectados com as formas como esses textos e essas tradições foram interpretados no desenvolvimento da história bíblica. Considerando isso, este artigo procura compreender como Paulo interpreta LXX Isaías 29.14b e LXX Jeremias 9.22-23 em 1 Coríntios 1.18-31, citações introduzidas respectivamente por “Como está escrito” (1.19) e “Para que, como está escrito” (1.31). Partindo do desenvolvimento narrativo do texto, o artigo demonstra como a ressignificação desses textos fundamenta o argumento de que Deus tanto destruirá e anulará a sabedoria e inteligência “deste mundo” como assinala uma correlação entre a manifestação da sua sabedoria e poder na cruz de Cristo e a vocação da comunidade cristã. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3280 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:Kenner Roger Cazotto Terra Pages: 183 - 194 Abstract: Os Atos Apócrifos dos Apóstolos são textos escritos nos séculos II e III, nos quais são narradas, de maneira heroica, as aventuras de André, Paulo, Tomé e outros apóstolos. Essas obras representam a preservação das memórias dos cristianismos dos primeiros três séculos e possuem muitos temas e gêneros comuns à tradição literária greco-romana. Como narrativas ficcionais de construção discursiva de mundo, os Atos Apócrifos demonstram as expectativas das comunidades cristãos das origens, a maneira como pensavam a realidade e suas relações sociais, os pactos comunicativos, compreensão de si no mundo greco-romano e interpretações topográficas, por vezes perpassadas por geografias míticas. Por isso os Atos Apócrifos dos Apóstolos tornam-se fontes indispensáveis para compreensão científica dos cristianismos das origens. Assim, superando o preconceito canônico, observaremos através desses textos a maneira como as comunidades cristãs constroem nessas narrativas suas identidades e ficcionam o mundo do Mediterrâneo, muitas vezes subvertendo-o e refazendo os discursos do Império Romano. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3258 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:Sidney de Moraes Sanches Pages: 195 - 210 Abstract: Este artigo tem por assunto a oralidade no Evangelho de Marcos. Seu objetivo primário é apontar para o substrato oral do texto escrito marcano, e o secundário é propor modos de observação das marcas da oralidade nele. Para isso me valho dos estudos sobre a tradição oral de Jan Vansina; sobre a oralidade de Werner Kelber e James Dunn; sobre a transmissão oral de Kenneth Bailey. Acrescento a contribuição da análise da narrativa (narrative analysis), focalizando o plano narrativo como meio complementar para o exame do relato oral. Apresento, como exemplo, o episódio de cura da mulher com hemorragias. Concluo, com James Dunn, que é possível reconhecer os vestígios de oralidade no texto marcano. E que esses servem para preencher o espaço entre Jesus e as primeiras transcrições e edições da tradição oral, cujo primeiro exemplar está no Evangelho de Marcos. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3410 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:Carlos Ribeiro Caldas Filho Pages: 211 - 225 Abstract: A teologia cristã tem dedicado muito espaço e atenção para a reflexão a respeito do ser de Deus – teologia propriamente – e da pessoa de Cristo – cristologia. Mas nem sempre tem sido dada atenção ao Espírito Santo, a “pessoa esquecida da Trindade”. O presente artigo apresenta, ainda que apenas em síntese, como a vertente da Reforma Protestante do século XVI, conhecida popular, mas erroneamente, como “calvinista”, elaborou o tema pneumatológico, isto é, a doutrina da pessoa e da obra do Espírito Santo. Para tanto, recorrerá à sua principal fonte primária, a saber, textos de João Calvino, e a dois teólogos reformados contemporâneos, quais sejam, Hendrikus Berkhof e Jürgen Moltmann. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3315 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:João Henrique Stumpf, Nilton Eliseu Herbes Pages: 226 - 240 Abstract: O presente artigo se propõe a analisar a práxis da poimênica e do aconselhamento pastoral na relação com o contexto social, político, econômico e cultural latino-americano, identificando suas principais características dentro dos respectivos ramos eclesiais, onde ela é refletida e exercitada. A análise demonstrou, em termos gerais, que a poimênica e o aconselhamento pastoral enfrentam inúmeras dificuldades para assumir o contexto social, político, religioso e até mesmo cultural, como parte de sua missão. Sua orientação individualista e reducionista impede que se aliem às lutas por libertação em andamento no continente. Facilmente adquirem uma característica paliativa ao isolar o indivíduo do contexto histórico no qual está inserido. Boa parte dessas dificuldades está ligada à sua excessiva dependência de modelos e pressupostos estadunidenses e europeus. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3379 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)
Authors:Vanessa Roberta Massambani Ruthes, Mary Rute Gomes Esperandio Pages: 241 - 255 Abstract: No Brasil, especialmente na última década, o cuidado espiritual emergiu como tópico relevante no campo da saúde, sobretudo em relação à questão ser ou não possível integrá-lo nas práticas de cuidado. Contudo, os estudos carecem de uma noção clara do que vem a ser cuidado espiritual. Este artigo tem como objetivo contribuir no aspecto teórico do debate trazendo para o contexto dessas discussões a perspectiva teológica. Para tanto, a noção de cuidado espiritual é aqui apresentada com base na refl exão de Dietrich Bonhoeffer, principalmente a partir das obras Seelsorge [Spiritual Care] e Resistência e Submissão. Nesta última, em especial, concebendo o ser humano como ser integral fundado no conceito de anthropos teleios, o teólogo alemão discute a prática de um cuidado espiritual que acolhe e cuida do humano que se encontra existencialmente em um mundo sem Deus. Bonhoeffer considera que o cuidado espiritual não se dá necessariamente por meio de aspectos religiosos, mas pela promoção de uma busca ampla e profunda de sentido, vinculada, sobretudo, a uma condição existencial signifi cante. Assim, Bonhoeffer apresenta o cuidado espiritual como aquele que busca a integralidade da pessoa humana. PubDate: 2019-07-22 DOI: 10.22351/et.v59i1.3300 Issue No:Vol. 59, No. 1 (2019)