Authors:Maria Helena da Guerra Pratas Pages: 15 - 34 Abstract: Em 13 de Maio de 2017 foram canonizadas em Fátima duas crianças, Jacinta Marto e Francisco Marto, depositárias da Mensagem da Virgem. No entanto, não foi fácil, ao longo do processo da sua beatificação, chegar à conclusão unânime de que duas crianças podiam ser santas, alcançar a santidade pelo exercício heróico das virtudes cristãs. O exemplo destas primeiras crianças de Fátima beatificadas abriu de certo modo caminho a uma nova reconfiguração do religioso, de abertura à santidade também das crianças, nem sempre devidamente valorizadas nas diversas dinâmicas pastorais. João Paulo II, na Homilia na Beatificação de Francisco e Jacinta, a 13 de Maio de 2000 quis explicitamente fundamentar a beatificação de duas crianças que não foram mártires nas palavras de Jesus no Evangelho: "Eu Te bendigo, ó Pai, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos". O mesmo Papa afirmou na Audiência Geral depois da beatificação: "Assim como em Lourdes, também em Fátima a Virgem escolheu crianças, Francisco, Jacinta e Lúcia, como destinatários da sua mensagem. Elas acolheram-na de modo tão fiel, que merecem não só serem reconhecidas como testemunhas críveis das aparições, mas elas mesmas se tornam exemplo de vida evangélica. (…) com os dois pastorinhos de Fátima a Igreja proclamou Beatos dois jovenzinhos porque, embora não sejam mártires, demonstraram que viviam as virtudes cristãs em grau heróico, apesar da sua tenra idade. Heroísmo de crianças, mas verdadeiro heroísmo" (Audiência, 17-V-2000). O objectivo deste estudo foi o de estudar e aprofundar como é encarada a infância nos vários textos da Sagrada Escritura, da Tradição cristã e do Magistério recente da Igreja Católica romana, com uma metodologia claramente teológica. PubDate: 2019-12-01 DOI: 10.34632/gaudiumsciendi.2019.7490
Authors:Maria Alexandre Bettencourt Pires Pages: 35 - 48 Abstract: Ao analisar a História Universal, procurando vestígios do interesse humano pela interdisciplinaridade, fica bem patente o facto de que aquelas épocas em que se aperfeiçoaram estudos anatómicos por dissecção cadavérica humana, logo foram seguidas por grandes eras de florescimento científico e artístico, como no caso do Egipto Antigo, da Grécia Clássica, ou do Renascimento. Tais pensamentos impregnaram-nos o espírito, por ocasião da recente visita à Exposição da colectânea real britânica dos 200 desenhos de Leonardo da Vinci, na Galeria Real do Palácio de Buckingham em Londres, em celebração do 500º aniversário da morte de Leonardo. Nessa ocasião, sentimos ter plenamente correspondido ao desejo expresso pela Rainha Isabel II de que "quem visitasse essa exposição se sentisse inspirado pelo brilhantíssimo fulgor da Obra de Leonardo". Não conseguiremos destrinçar se Leonardo dissecou corpos humanos no sentido de enaltecer a sublime superioridade artística, ou se, ao invés, teria sido a precocidade do seu interesse por engenharia, arquitectura, anatomia e fisiologia humana, que o levaram a querer dissecar e explorar o interior dos corpos. Trabalhou só, e em segredo, escondendo a maior parte dos trabalhos do seu público contemporâneo, mas a pequena parcela do brilhantíssimo fulgor do seu legado, que subsistiu após meio milénio, aguardou por um público culturalmente mais desenvolvido, mais capaz de aprender e apreciar os seus esforços de diluição de barreiras disciplinares, na evolução cultural para a "transdisciplinaridade" como marca cultural do limiar do século XXI. PubDate: 2019-12-01 DOI: 10.34632/gaudiumsciendi.2019.7491
Authors:Margarida Amaral Pages: 49 - 66 Abstract: Este artigo pretende reflectir acerca do conceito arendtiano de "banalidade do mal". Ele começa por uma análise do filme "Hannah Arendt" de Margarethe von Trotta. Este início não é um mero pretexto. Pelo facto de se tratar de uma obra cinematográfica relativamente recente, o filme tem uma divulgação pública muito superior aos livros de Arendt. Neste sentido, torna-se importante confrontar o filme, elucidando os seus aspectos mais ou menos concordantes com a obra da autora. A banalidade do mal é talvez o mais complexo conceito proposto por Hannah Arendt, tendo, além disso, dado origem a uma polémica que a autora não teria podido prever. O filme de Margarethe von Trotta revela-se extremamente fiel a esta polémica, embora, por se tratar de um filme e não de um tratado de filosofia, não explore toda a complexidade associada ao conceito. Esta complexidade está relacionada com os poucos esclarecimentos que Hannah Arendt prestou acerca da sua mudança de pensamento relativamente ao tema do mal totalitário, a qual foi acompanhada de uma alteração conceptual - do "mal radical" à "banalidade do mal". Pretendo mostrar, sem negar as diferenças entre os conceitos, que os podemos combinar de forma a pensar a banalidade capaz de conduzir ao mal radical. PubDate: 2019-12-01 DOI: 10.34632/gaudiumsciendi.2019.7492
Authors:Américo Almeida Pages: 67 - 76 Abstract: The matrix of all Hellenic culture is the intuition of the absolute difference between the existence of something and its contradiction, for which there are no proper words. Hesiodic myth, as well as the narratives of Homer and the great dramatic authors, portray the first conception of this relation, depicted in many detailed forms. Plato, following Socrates’ teachings, proposes Goodness as that absolute difference, as the absolute ontological positivity that produces/creates being. PubDate: 2019-12-01 DOI: 10.34632/gaudiumsciendi.2019.7493
Authors:Miguel Alarção Pages: 77 - 95 Abstract: Não sendo, obviamente, termos, conceitos e realidades históricos sinonímicos, o presente ensaio associa, de algum modo, "absolutismo" e "miguelismo" por oposição ou contraposição comum a um "liberalismo" político apenas estabilizado em meados do século XIX, não sem hesitações, dificuldades e erros de percurso. O nosso objectivo será abordar alguns traços, sinais e vestígios do tempo de D. Miguel na representação romanesca de Os Fidalgos da Casa Mourisca (1872) de Júlio Dinis (1839-1871), nascido no Porto em pleno Setembrismo. PubDate: 2019-12-01 DOI: 10.34632/gaudiumsciendi.2019.7495
Authors:Maria Laura Bettencourt Pires Pages: 97 - 116 Abstract: A fim de celebrar o bicentenário da publicação de Ivanhoe (1819) iremos comprovar que a obra ficou famosa por ter concorrido para o aumento de interesse pela História e pela Idade Média. Quando ouvimos falar dos rebeldes recalcitrantes e selvagens das novelas gráficas dos nossos dias, vemos que Ivanhoe, no século XIX, já actuava como os anti-heróis modernos e foi o seu modelo e precursor. Verifica-se que a fama de Sir Walter Scott (1771-1832) se mantém desde há dois séculos e que o seu nome continua a ser conhecido em todo o mundo. Scott (1771-1832) nasceu nos Borders, estudou na Universidade de Edimburgo, viveu nos Trossachs, assim como em Stirlingshire e no Loch Katrine. Em 1811, comprou Abbotsford House, onde organizou uma colecção de antiguidades e uma biblioteca com 20.000 volumes. Além de ser um escritor de sucesso, tanto com a obra literária como com as suas actividades culturais, Scott contribuiu para o "mito" das Highlands e para o uso do kilt e dos diferentes tartans. Agora que as suas obras estão acessíveis também nos E-texts, como acontece com o projecto Gutenberg e com o Walter Scott Digital Archive da Universidade de Edimburgo, verifica-se que há um recrudescimento de interesse e fica comprovado que ele continua a ser apreciado por uma nova geração de leitores. Múltiplos estudos sobre recepção comprovam também a forma como a obra de Scott foi recebida e influenciou a produção artística. Os actuais leitores de Walter Scott, que estão familiarizados com os temas do Pós-colonialismo reconhecem-nos na voz narrativa de Scott, o que justifica que continue a haver interesse em ler, estudar e reeditar a sua obra por nela se tratarem questões como a instabilidade política e a violência, que resultam da mistura dos povos e da fluidez das fronteiras, assuntos bem actuais. Verifica-se, portanto, que obras literárias de valor, como as de Scott, continuam a ter interesse e a deverem ser lidas mesmo quando os seus autores há muito desapareceram. A prova da longevidade está patente também no facto de haver produções cinematográficas inspiradas na obra de Scott, como o filme Ivanhoe (1952), com o actor Robert Taylor e a versão de Walt Disney, de 1953, com Richard Todd, transformando assim o lendário Ivanhoe numa extravagante figura romântica da cultura popular e, em 1982, da versão de Hollywood, com Anthony Andrews e James Mason. Podemos, pois, concluir que Scott foi uma figura de culto no romanticismo europeu, que bem merece os monumentos que lhe foram dedicados e que contribuiu para a tomada de consciência de que as influências da poesia vão para além do âmbito literário e também devido ao seu modo diferente de combinar a história com a ficção PubDate: 2019-12-01 DOI: 10.34632/gaudiumsciendi.2019.7496